quarta-feira, 4 de março de 2009

Caos persiste nos IMLs do Paraná

Necropsias feitas com serrote, cadáveres que levam meses para serem liberados, viagens de mais de 500 quilômetros para a realização de exames, agenciamento irregular de serviços funerários, ambulâncias do Corpo de Bombeiros servindo de rabecão. Essa é a realidade nos Institutos Médicos-Legais (IMLs) um ano após a intervenção que foi idealizada para melhorar o atendimento à população. O coronel Almir Porcides Júnior, nomeado interventor em fevereiro de 2008, diz ter resolvido 50% dos problemas que encontrou.
O prédio do IML em Ponta Grossa está em reforma há um mês, mas a troca do piso e a pintura nova não vão resolver os problemas da unidade. Uma ambulância emprestada do Corpo de Bombeiros serve de rabecão. Como o veículo não vence fazer todas as viagens para buscar corpos, muitas vezes as funerárias fazem o transporte, mas depois cobram dos familiares. Com apenas dois legistas para fazer necropsias, pelo menos um fim de semana por mês não há plantão e os cadáveres precisam ser levados para Curitiba, conturbando ainda mais o já sobrecarregado sistema da capital. No Natal, cinco corpos foram autopsiados em Curitiba; no feriado do Carnaval a ausência de legista se repetiu e sete corpos foram encaminhados.
Dona de uma funerária em Ortigueira, Maria Inez Lauber ficou 11 horas no IML de Ponta Grossa esperando a liberação de dois corpos. Tio e sobrinho foram mortos de noite, mas o rabecão só chegou na cidade, a 120 km de distância, por volta das 14 horas. De Ortigueira, foram levados para Curitiba. Os familiares e a agente funerária ficaram das 16 horas até as 3 horas da madrugada no IML esperando o retorno. “Ficamos do lado de fora, no frio e na chuva, sem nem a possibilidade de ir no banheiro. E tudo isso por falta de médico para fazer o exame”, diz.
Em Toledo, no Oeste do Paraná, o instituto nem sequer funciona em alguns dias por mês. Faltam médicos e o único legista contratado trabalha até vencer a carga horária mensal. Depois disso, os corpos das 21 cidades da região precisam ser levados para Cascavel. “Tem mês que fica 15 dias sem funciona, outro que fica cinco e assim vai”, conta Lourival Neves Junior, membro do Conselho Municipal de Segurança. A situação é precária há 13 anos, diz ele, mas ficou mais complicada depois que a prefeitura retirou, em 2007, os funcionários cedidos. Até que consiga concluir o concurso público para a contratação de pessoal, o governo estadual oferece a médicos-legistas a opção de contratação por nomeação de cargo comissionado. “Mas ninguém se interessa porque o salário líquido é de menos de R$ 1 mil”, relata Neves Junior.
Andamento
“Tendo em vista como pegamos a instituição, está bem agora”, diz Porcides. Ele relata que a estrutura estava abandonada e desmoralizada e que o processo de reformulação leva tempo. “Não tinha internet nas unidades do interior. Nem saco para cadáveres. Os funcionários tinham que pegar os corpos no seco”, conta, alegando que já providenciou parte dos equipamentos necessários.
Porcides admite que faltam profissionais em várias cidades, como Ponta Grossa e Toledo, mas afirma que a nomeação das 40 pessoas aprovadas em concurso público – no ano passado – sairá em breve, amenizando o déficit. “E já vamos pedir mais um concurso, porque sabemos que precisamos de mais gente”, diz.
Sobre Toledo, ele diz que, por mais que procure profissionais na região, não consegue contratar um legista para suprir a demanda. O interventor admite que ele mesmo pediu ao Corpo de Bombeiros o empréstimo de ambulâncias para algumas unidades do IML, mas ressalta que se trata de uma situação transitória. “Só até conseguirmos ter uma viatura nova em cada um dos 17 IMLs”, garante.
Foram comprados seis veículos e mais dez devem ser adquiridas, além de veículos para serviços administrativos. Há projetos de construção de prédios para adequar as instalações em sete cidades e as unidades de Guarapuava e Ponta Grossa estão em obras. “O processo é lento, mas sai”, assegura.
(Tudo Paraná)

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