terça-feira, 14 de julho de 2009

Exército levou 4 bebês do Araguaia, diz ex-guia militar

O ex-guia militar José Maria Alves da Silva, o Zé Catingueiro, afirmou que o Exército levou quatro bebês de guerrilheiros na Guerrilha do Araguaia (1972-1975). A declaração foi dada em um encontro, no domingo, com Maria Mercês Castro, que, após as revelações do oficial da reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura de que o irmão dela, Antônio Teodoro de Castro, o Raul, estava na lista dos 41 executados, passou a procurar por uma suposta sobrinha.
"O senhor conheceu o Raul?", perguntou a irmã. "Conheci demais. Fui guerrilheiro também", respondeu Zé Catingueiro. "O senhor poderia dizer se ele teve uma filha aqui?" O camponês respondeu: "Se eu soubesse com precisão, eu diria". "É que eu soube de dois bebês, um era branco, que foram levados pelos militares ou que passaram a morar com famílias de gente daqui", prosseguiu Maria Mercês. Foi quando Catingueiro a surpreendeu. "Não foram só dois. Foram quatro. Um foi levado para Manaus. Um era menina." Um dos bebês, negro, era filho do guerrilheiro Osvaldo Orlando Costa, o Osvaldão, como indicou um documento do arquivo de Curió.
Maria Mercês perguntou a Catingueiro se ele conheceu Regina, uma possível namorada de Raul. O ex-guia confirmou ter conhecido a moça que trabalhava num cabaré da região da Palestina. "Lembro demais. Ela teve uma menina. Branca, branca." Maria Mercês continuou. "Nós, irmãos do Raul, não temos mágoa. Ele veio para cá sabendo o que poderia ocorrer. Quem está na chuva é para se molhar. Agora, não temos nada dele. Se existir o bebê, teremos um bebê dele", apelou. "Se eu souber, darei a informação", disse Catingueiro.
Maria Mercês teve outro momento emocionalmente forte no encontro com o mateiro. "O Raul tinha alguma marca no corpo?", perguntou. Sem tirar os olhos do rosto dela, Catingueiro indicou com a mão o lado direito da barriga. Maria Mercês avaliou que a resposta do ex-guia era suficiente ao menos para continuar as investigações sobre o paradeiro da suposta sobrinha. Raul tinha mesmo uma cicatriz no lado direito da barriga, um problema de infância. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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